terça-feira, agosto 22, 2006

Ser Pessoa


"Tornei-me uma figura de livro, uma vida lida. O que sinto é (sem que eu queira) sentido para se escrever que se sentiu. O que penso está logo em palavras, misturado com imagens que o desfazem, aberto em ritmos que são outra coisa qualquer. De tanto recompor-me destruí-me. De tanto pensar-me, sou já meus pensamentos mas não eu. Sondei-me e deixei cair a sonda; vivo a pensar se sou fundo ou não, sem outra sonda agora senão o olhar que me mostra, claro a negro no espelho do poço alto, meu próprio rosto que me contempla contemplá-lo." Fernando Pessoa in "livro do desassossego"

A vida passa por nós a um ritmo frenético, corremos de um lado para o outro sem sabermos que rumo lhe dar. Na maioria das vezes a nossa passagem limita-se a uma especie de superficialidade que nos impede de ser imortalizados pelos demais. Será que algum dia nos chegamos a conhecer?

Norteados por questões existencialistas, quem já não se olhou ao espelho, numa tenativa fugaz de reencontro com o seu EU e colocou as seguintes questões: Quem somos? O que somos? Qual a razão da minha existência?

Quando nos olhamos ao espelho, e vislumbramos o reflexo da nossa imagem será que sabemos quem é aquele ser cuja imagem, apesar da sua nitidez ,se reflete no nosso inconsciente de forma desfocada. Ou será que tal como Pessoa sentimos que "Tudo se me evapora. A minha vida inteira, as minhas recordações, a minha imaginação e o que contém, a minha personalidade, tudo se me evapora. Continuamente sinto que fui outro, que pensei outro. Aquilo a que assisto é um espectáculo com outro cenário. E aquilo a que assisto sou eu."

Sou comandante de um navio sem rumo, navegando por mares inóspitos numa solidão eterna. Desconheço a razão da minha existência, desconheço o ser que reside em mim. não sei quem sou, de onde vim e muito menos para onde irei, "só sei que nada sei". O meu corpo e o meu cérebro parecem não se conhecer, cada qual pretende seguir uma trajétória diferente. Eu inocentemente acredito que os controlo...

Sinto-me presa em mim... solto gritos mudos para que não me possam ouvir. Estou presa mas protegida. Olhei em meu redor, a vida fervilhava, num silêncio ensurdecedor, de quem tudo vê sem nada olhar. A vida lá fora estava uma selva...

beijos a todos

3 Comments:

At agosto 24, 2006 6:32 da tarde, Anonymous Anónimo said...

dou por mim muitas vezes a pensar que realmente não conheço ninguem. aqueles que me rodeiam são eternos desconhecidos. eu tm não me reconheço e quanto mais julgo que sei mais me mentalizo da minha eterna ignorancia.

parabens a venus pela sua exposição

 
At agosto 26, 2006 4:47 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Olá a todos,
segundo a Grécia antiga o ser pessoa era ser uma personagem, "personna", num mundo teatral na procura do outro. A nossa construção diária é um reflexo claro dos nossos objectivos. Inconscientemente, nós somos uns representantes numa peça em que a liberdade de interpretar o respectivo eu é sempre limitada pelo argumento, que nos dia de hoje são representados pela responsabilidade, ou seja, a nossa construção é um resultado claro da liberdade numa ligação estreita com a responsabilidade – liberdade responsável - tudo isto compromete obviamente a nossa auto-evoluição, a nossa auto-realização e a nossa auto-satisfação, e daí resulta o nosso descontentamento com a realidade. Representem as vossas próprias peças, vivam o vosso próprio filme, e acreditem que cada um de nós é o herói ou o vilão de um filme que à partida seria um romance…

Beijos e abraços a todos…

 
At agosto 26, 2006 7:55 da tarde, Blogger venus said...

Realmente o filme das nossas vidas deveria ser um romance, mas muitas vezes é mais uma tragédia grega.
Para que fosse um romance era necessário que existisse amor e felicidade. mas afinal o que é o amor? alguem o viu ou o sentiu?

 

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