quarta-feira, setembro 06, 2006

Vale a pena refletir

"Os que estão a morrer ensinam-nos a viver" Marie Hennenzel



Na eminência da morte, o ser humano vislumbra todo um percurso de vida, atraves de uma "pelicula" subconsciente, cujo as imagens passam a um ritmo desenfreado e descontrolado. Só a morte desperta no homem sentimentos que, durante toda a sua existência, foram comodamente acondicionados no baú do seu íntimo.
Esta análise é muitas vezes dolorosa, na medida em que o indivíduo se apercebe de que muito ficou por fazer, por dizer, por sentir. Inicia-se uma fase de revolta, de angústia e negação perante esta inevitabilidade da vida. Percebemos que passamos o tempo a cobiçar o próximo, sonhando com vidas que não possuímos e simplesmente desconhecemos, limitamo-nos a sobreviver esquecendo o quanto seria belo viver.
Ironicamente é nesta fase que somos reconhecidos como Pessoas, que todos aqueles que durante vários anos fizeram parte do nosso quotidiano se juntam para ressaltar os nossos feitos. contudo as suas vidas irão continuar após a ausência dos que amam, como se simplesmente os que morreram fizessem parte de um filme antigo. como diria Vergilio Ferreira "O que mais me intriga e dói na nossa morte, como vemos na dos outros, é que nada se perturba com ela na vida normal do mundo".
Aproveito para fazer aqui uma homenagem a alguêm que se encontra em fase terminal e que presenteou todos os seus amigos com uma carta, que considero ser digna de reflexão.
"Se, por um instante, Deus se esquecesse de que sou uma marionete de trapo e me presenteasse com um pedaço de vida, possivelmente não diria tudo o que penso, mas, certamente, pensaria tudo o que digo.

Daria valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo que significam.

Dormiria pouco, sonharia mais, pois sei que a cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz.
Andaria quando os demais parassem, acordaria quando os outros dormem.

Escutaria quando os outros falassem e gozaria um bom sorvete de chocolate.

Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida, me vestiria simplesmente, me jogaria de bruços no solo, deixando a descoberto não apenas meu corpo, como minha alma.

Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria meu ódio sobre o gelo e esperaria que o sol saísse.

Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre estrelas um poema de Mário Benedetti, e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à Lua.

Regaria as rosas com minhas lágrimas para sentir a dor dos espinhos e o encarnado beijo de suas pétalas.

Deus meu, se eu tivesse um pedaço de vida... Não deixaria passar um só dia sem dizer às gentes - te amo, te amo.

Convenceria cada mulher e cada homem que são os meus favoritos e viveria enamorado do amor.

Aos homens, lhes provaria como estão enganados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de se apaixonar.

A uma criança, lhe daria asas, mas deixaria que aprendesse a voar sozinha.

Aos velhos, ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento.

Tantas coisas aprendi com vocês, os homens...

Aprendi que todo mundo quer viver no cimo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpa.

Aprendi que quando um recém-nascido aperta com sua pequena mão pela primeira vez o dedo de seu pai, o tem prisioneiro para sempre.

Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se.

São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas, ao final, não poderao servir muito porque quando me olharem dentro dessa maleta (laptop), infelizmente estarei morrendo."
Gabriel Garcia Marquez

4 Comments:

At setembro 10, 2006 5:09 da tarde, Blogger MEU DOCE AMOR said...

Vénus:vim aqui dar, nem sei porquê.Mas há sempre um porquê na vida.

Esse porquê, é um grande ensinamento que vim aqui beber, dessa pessoa foemidável e sonhadora.Que Deus o acompanhe na sua jornada.

Um beijinho
Doceando

 
At setembro 10, 2006 6:51 da tarde, Anonymous Anónimo said...

O tema da morte tem muito que se lhe diga, mas de uma coisa tenho a certeza: só uma boa vida conduz a uma boa morte. Parece uma frase ridícula, à Lili Caneças, não é? ;)

 
At setembro 11, 2006 12:05 da manhã, Blogger venus said...

olá.
Antes demais gostaria de agradecer a visita d todos ao meu humilde espaço. estão convidados a voltar sempre que quiserem...
em relação ao comentário de OVER, tenho-te a dizer que é dificil superar a celebre frase dessa senhora, que num momento d profunda reflexão nos bafejou com "estar vivi é o contrário de estar morto":-). até me admiro como ainda não publicou uma tese.

beijos para todos

 
At setembro 15, 2006 5:49 da tarde, Anonymous Anónimo said...

esta lindo, não só pelas palavras de gabriel garcia marques mas tambem pela tua exposição da morte...
abraço forte

 

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